segunda-feira, abril 21, 2008

Vidas Anónimas


Porque há vidas que nos passam ao lado - vidas anónimas, tantas vezes esquecidas pela nossa indiferença...



Último Sonho


Anoiteceu, uma vez mais…
E um a um, se foram acendendo
Os poucos e raros candeeiros,
Que com suas luzes bruxuleantes,
Mal alumiavam aquela viela junto ao cais,
Nauseabunda, obscura e mal amada,
Porto de abrigo de bêbados,
Mulheres da vida e marginais.


Lá fora ficara mais um dia
Que passara lento e pesado,
Com resignação e indiferença
Pelo corpo e pela alma…
Uma alma feita de silêncios…
Pesados, doridos e melancólicos,
De dores cheias de vazios,
De lágrimas secas e torpores alcoólicos.


Na penumbra, à janela daquele primeiro andar
Olhava a viela que se escurecia,
E quase sentia como de outros, os cheiros fétidos
E as corrompidas vidas que conhecia…
Não fora isto que para si sonhara
Quando tal ainda lhe fora permitido.
Uma maldição parecia, tudo o que vivera
Uma sensação de vazio… entorpecido.


Seu último sonho… ganhar asas
Como os anjos daquele filme noire
E voar… voar… voar rumo ao céu
Sem olhar para trás, para não mais tornar.
E era assim que teria acontecido
Não fora aquela a sua última gota de água
De uma vida onde o sonho fora banido…
Vida escrita com palavras de sangue e mágoa.


in "Vidas Anónimas"

R. Lima


Foto in www.gritosilenciosos.blogger.com.br

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