sexta-feira, agosto 17, 2007

A uma desconhecida...

"The Virgin of the Rocks" (pormenor)
Leonardo da Vinci



Quadras Para a Desconhecida

Ó minha desconhecida
Que formosa deves ser…
Dava toda a minha vida
Só para te conhecer!

Mais fresca e perfumada
Do que as manhãs luminosas,
A tua carne dourada
Como há-de saber a rosas!

Da minha boca de amante
Será o manjar preferido
O teu corpo esmaecido
Todo nu e perturbante.

Que bem tu me hás-de beijar
Com os teus lábios viçosos!
Os teus seios capitosos
Como hão-de saber amar!...

Os teus cabelos esparsos
Serão o manto da noite,
Um refúgio onde me acoite
Do sol dos teus olhos garços.

Olhos garços, cor do céu,
Cabelos de noite escura;
Será feita de incoerências
Toda a sua formosura…

Os dias que vou vivendo
Tão desolados e tristes
É na esp’rança de que existes
Que os vivo… e que vou sofrendo…


Mário de Sá-Carneiro



2 comentários:

Ana disse...

o primeiro poema que conheci dele, ouvi-o na voz do luis represas: "Fim". De quando em quando pono-me a trauteá-lo

Rui disse...

"Fim" é dos poucos poemas que sei de cor. Para além de o saber de cor, há dias que me dá também para trauteá-lo, mas na versão dos "Resistência", cuja música tem o arranjo do João Gil e a voz de Olavo Bilac. Talvez já conheças essa versão... Muito bonita e extremamente melancólica!

"(...) E eu quero por força ir de burro"

 
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