sexta-feira, setembro 28, 2007
quinta-feira, setembro 27, 2007
Rafael
Num meio-dia de fim de primavera
eu tive um sonho como uma fotografia:
eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte,
mas era outra vez menino,
a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora,
e a rir de modo a ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais
pra fingir-se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo
e o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém
soubesse que Ele tinha fugido;
com o segundo Ele se criou
eternamente humano e menino;
e com o terceiro Ele criou
um Cristo eternamente na cruz
e deixou-o pregado na cruz
que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol
e desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo.
É uma criança bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito,
chapinha nas poças d'água,
colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares,
e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam,
e toda gente acha graça,
que levam as bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo.
Ele me ensinou a olhar para as coisas.
Ele me aponta todas as cores que há nas flores
e me mostra como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas.
Damo-nos tão bem um com o outro
na companhia de tudo que nunca pensamos um no outro.
Vivemos juntos os dois com um acordo íntimo,
como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas
no degrau da porta de casa.
Graves, como convém a um DEUS e a um poeta.
Como se cada pedra fosse todo o Universo
e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens.
E Ele sorri, porque tudo é incrível.
Ele ri dos reis e dos que não são reis.
E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo
para dentro da minha casa,
deito-o na minha cama, despindo-o lentamente,
como seguindo um ritual todo humano
e todo materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma.
Às vezes Ele acorda de noite, brinca com meus sonhos.
Vira uns de pena pro ar, põe uns por cima dos outros,
e bate palmas, sozinho, sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança,
o mais pequeno, pega-me Tu ao colo,
leva-me para dentro a Tua casa.
Deita-me na tua cama.
Despe o meu ser, cansado e humano.
Conta-me histórias caso eu acorde
para eu tornar a adormecer,
e dá-me sonhos Teus para eu brincar.
Alberto Caeiro (poema)
Maria Bethania (adaptação)
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quarta-feira, setembro 26, 2007
Leaf Blankets
Leaf Blankets
Red and yellow, gold and brown;
The breeze laughs gaily in the treetops,
Shaking all the color down.
As my blanket covers me.
When cold winter comes, the flowers
Will be warm as warm can be.
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terça-feira, setembro 25, 2007
Anjo És
Anjo és tu, que esse poder
Jamais o teve mulher,
Jamais o há-de ter em mim.
Anjo és, que me domina
Teu ser o meu ser sem fim;
Minha razão insolente
Ao teu capricho se inclina,
E minha alma forte, ardente,
Que nenhum jugo respeita,
Covardemente sujeita
Anda humilde a teu poder.
Anjo és tu, não és mulher.
Anjo és. Mas que anjo és tu?
Em tua fronte anuviada
Não vejo a c'roa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sôfrego pudor
Vela os mistérios d'amor.
Teus olhos têm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não têm. - Que anjo és tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?
Não respondes - e em teus braços
Com frenéticos abraços
Me tens apertado, estreito!...
Isto que me cai no peito
Que foi?... - Lágrima? - Escaldou-me...
Queima, abrasa, ulcera... Dou-me,
Dou-me a ti, anjo maldito,
Que este ardor que me devora
É já fogo de precito,
Fogo eterno, que em má hora
Trouxeste de lá... De donde?
Em que mistérios se esconde
Teu fatal, estranho ser!
Anjo és tu ou és mulher?
Almeida Garrett
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segunda-feira, setembro 24, 2007
Correm rios, rios eternos
Que missa branca interrompes para me lançar a bênção de te mostrar sendo? Em que ponto ondeado da dança estacas, e o Tempo contigo, para do teu parar fazeres ponte até minha alma e do teu sorriso púrpura do meu fausto?
Cisne de desassossego rítmico, lira de horas imortais, harpa incerta de pesares míticos - tu és a Esperada e a Ida, a que afaga e fere, a que doura de dor as alegrias e coroa de rosas as tristezas.
Que Deus te criou, que Deus odiado pelo Deus que se fez o mundo?
Tu não o sabes, tu não sabes que o não sabes, tu não queres saber nem não saber. Despiste de propósitos a tua vida, nimbaste de irrealidade o teu mostrar-te, vestiste-te de perfeição e de intangibilidade, para que nem as Horas te beijassem, nem os Dias te sorrissem, nem as Noites te viessem pôr a lua entre as mãos para que ela parecesse um lírio.
Desfolha ó meu amor sobre mim pétalas de melhores rosas, de mais perfeitos lírios, pétalas de crisântemos... cheirosas à melodia do seu nome.
E eu morrerei em mim a tua vida, ó Virgem que nenhum abraço espera, que nenhum beijo busca, que nenhum pensamento desflora.
Átrio só átrio de todas as esperanças, Limiar de todos os desejos, Janela para todos os sonhos,... Belveder para todas as paisagens que são floresta nocturna e rio longínquo trémulo do muito luar...
Versos, prosas que se não pensam escrever, mas sonhar apenas.
Fernando Pessoa - in "Livro do Desassossego"
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domingo, setembro 23, 2007
Açor
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Outonal
Outonal
Caem as folhas mortas sobre o lago;
Na penumbra outonal, não sei quem tece
As rendas do silêncio… Olha, anoitece!
- Brumas longínquas do País do Vago…
Veludos a ondear… Mistério mago…
Encantamento… A hora que não esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bênção dum afago…
Outono dos crepúsculos doirados,
De púrpuras, damascos e brocados!
- Vestes a terra inteira de esplendor!
Outono das tardinhas silenciosas,
Das magníficas noites voluptuosas
Em que eu soluço a delirar de amor…
Florbela Espanca
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sábado, setembro 22, 2007
Finalmente regressaste!
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...
Tu és a folha de Outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certo de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
(in http://www.pensador.info/p/cancao_de_outono/1/)
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domingo, setembro 16, 2007
Asas
Todos nós somos anjos!
É o que fazemos com as nossas asas que nos diferencia.
"Northfork"
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quinta-feira, setembro 13, 2007
Até sempre Amigão
06/05/1974 - 11/09/2007
«Noite Trágica»
O pavor e a angústia andam dançando…
Um sino grita endechas de poentes…
Na meia-noite d´hoje, soluçando,
Que presságios sinistros e dolentes!…
Tenho medo da noite!… Padre nosso
Que estais no céu… O que minh´alma teme!
Tenho medo da noite!… Que alvoroço
Anda nesta alma enquanto o sino geme!
Jesus! Jesus, que noite imensa e triste!
A quanta dor a nossa dor resiste
Em noite assim que a própria dor parece…
Ó noite imensa, ó noite do Calvário,
Leva contigo envolto no sudário
Da tua dor a dor que me não ´squece!
Soprado por Rui à(s) 23:55
quinta-feira, setembro 06, 2007
quarta-feira, setembro 05, 2007
Palavras ao vento
Não és real. Para o seres
Não foras, ó flor, tão bela;
Se à mente Deus te revela,
Não te cria o mundo, não.
Vegetas no peito do homem,
Mas não há viçoso prado
Onde te beije embriagado
O sopro da viração.
Júlio Dinis
Soprado por Rui à(s) 01:59 0 fragrâncias
sábado, setembro 01, 2007
Perfect Day
Gosto tanto, tanto desta música que não resisto a colocar aqui todos os intervenientes e os seus contributos.
Que todos os dias sejam perfeitos... e vividos com simplicidade descrita na letra desta música!
Just a perfect day, drink sangria in the park...
(Lou Reed)
And then later, when it gets dark...
(Bono, of U2)
(Sky, of Morcheeba)
Just a perfect day...
(David Bowie)
Feed animals in the zoo...
(Suzanne Vega)
Then later a movie too, and then home...
(Elton John)
Oh, it's such a perfect day...
(Boyzone)
(Lesley Garrett, opera singer)
(Burning Spear, reggae singer)
You just keep me hanging on...
(Bono, of U2)
(Thomas Allen, opera singer)
(Brodsky Quartet)
Just a perfect day...
(Heather Small, of M People)
(Emmylou Harris, country singer)
(Tammy Wynette, country singer)
(Shane McGowan, of The Pogues)
(instrumental link)
(Sheona White, young musician of the year, 1997)
(Dr John, R&B singer)
You made me forget myself...
(David Bowie)
(Robert Cray, blues singer)
(Huey, of Fun Lovin' Criminals)
(Ian Brodie, of Lightning Seeds)
(Gabrielle )
(Dr John, R&B singer)
(Evan Dando, of The Lemonheads)
You must keep me hanging on...
(Emmylou Harris, country singer)
(instrumental break)
(Courtney Pine, jazz saxophonist) & (BBC Symphony Orch)
(Brett Anderson, of Suede)
Reap, reap, reap...
(Visual Ministery Choir)
You're going to reap...
(Joan Armatrading)
Just what you sow...
(Laurie Anderson)
(Visual Ministery Choir)
You're going to reap just what you sow - yeah...
(Heather Small, of M People)
Reap, reap, reap...
(Visual Ministery Choir)
Oh, you're going to reap just what you sow...
(Tom Jones)
Reap, reap, reap...
(Visual Ministery Choir)
You're going to reap just what you sow - yeah...
(Heather Small, of M People)
Reap, reap, reap what you sow...
(Visual Ministery Choir)
Oh, what a perfect day.
(Lou Reed)
Soprado por Rui à(s) 22:44 0 fragrâncias