quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Errante

Errante

Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando,
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos caminhos

Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser de um santo e um poeta
Vai procurando o Paço de Ventura...

Meu coração não chega lá decerto...
Não conhece o caminho nem o trilho,
Nem há memória desse sítio incerto...

Eu tecerei uns sonhos irreais...
Como essa mãe que viu partir o filho,
Como esse filho que não voltou mais!...


Florbela Espanca (1917)

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