terça-feira, dezembro 13, 2011

A Minha Vida é um Barco Abandonado


A minha vida é um barco abandonado

Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?

Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.

Morto corpo da acção sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.


Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'

Regresso


Após um ano de silêncio,
perdido entre os acasos da vida,
as suas ilusões e desilusões,
as suas alegrias e tristezas...
Eis que regresso a um lugar
que sempre foi porto de abrigo
para um barco que navega
nas águas da existência...

RC

domingo, dezembro 12, 2010

Acaso?


Apetecia-me ser (mais) descuidado...


sábado, novembro 13, 2010

Tu és a estrela!

"Tão perto de ti"
@ Camarate - Rui C. (Novembro 2010)


Não, tu não és um sonho, és a existência
Tens carne, tens fadiga e tens pudor
No calmo peito teu. Tu és a estrela
Sem nome, és a morada, és a cantiga
Do amor, és luz, és lírio, namorada!
Tu és todo o esplendor, o último claustro
Da elegia sem fim, anjo! mendiga
Do triste verso meu. Ah, fosses nunca
Minha, fosses a idéia, o sentimento
Em mim, fosses a aurora, o céu da aurora
Ausente, amiga, eu não te perderia!

Vinicius de Moraes

terça-feira, novembro 09, 2010

Uma amargura indizível

"Dias partidos um a um"
@ Seia - Rui C. (Setembro 2010)



Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

Eugénio de Andrade

domingo, novembro 07, 2010

Um mistério

"Andando nas nuvens II"
@ S. Pedro Sul - Rui C. (Outubro 2010)

Um mistério que trago dentro de mim.
Ajuda-me, minh'alma a descobrir...
É um mistério de sonho e de luar.
Que ora me faz chorar, ora sorrir!

Florbela Espanca

domingo, outubro 24, 2010

És

"Andando nas nuvens"
@ S. Pedro Sul - Rui C. (Outubro 2010)

Minh'alma, de sonhar-te anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!


Florbela Espanca

segunda-feira, outubro 04, 2010

Sismo

"Sorrisos floridos"
@ Óbidos - Rui C. (Setembro 2010)


Há um pequeno sismo em qualquer parte
ao dizeres o meu nome.
Elevas-me à altura da tua boca
lentamente
para não me desfolhares.
Tremo como se tivera
quinze anos e toda a terra
fosse leve.
Ó indizível primavera!

Eugénio de Andrade


 
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