quarta-feira, janeiro 30, 2008

Último Reduto


Ultimo Reduto

Meu coração é bom naturalmente.
Gosta do mar, da terra e das crianças.
Bate uma vida inteira sem mudanças,
Se ninguém o magoar.
No seu calor, é quente
Qualquer amor que o venha visitar.

Fonte dum rio que dá volta ao corpo
Da humanidade,
Nunca, em nenhuma idade,
Empobreceu a força do caudal!
Generosa, fecunda e permanente,
A vermelha corrente
Regou sempre a secura do areal.

E querem duvidar desta certeza!
Querem que uma represa
De amargura
Seja a vil sepultura
Dum abraço que sempre se alargou!
Querem que a noite da desilusão
Se dobre sobre cada pulsação
Da onda que a ternura levantou!

Alto ladrões do sol da primavera!
O que querem roubar,
é uma flor que supera
O fruto !
Uma presença tão familiar
Que nos deixa de luto
Se faltar.


Miguel Torga - "Cântico do Homem"

terça-feira, janeiro 29, 2008

Sonhando...

Sonhando...

É noite pura e linda. Abro a minha janela
E olho suspirando o infinito céu,
Fico a sonhar de leve em muita coisa bela
Fico a pensar em ti e neste amor que é teu!


D’olhos fechados sonho. A noite é uma elegia
Cantando brandamente um sonho todo d’alma
E enquanto a lua branca o linho bom desfia
Eu sinto almas passar na noite linda e calma.


Lá vem a tua agora… Numa carreira louca
Tão perto que passou, tão perto à minha boca
Nessa carreira doida, estranha e caprichosa


Que a minh’alma cativa estremece, esvoaça
Para seguir a tua, como a folha de rosa
Segue a brisa que a beija… e a tua alma passa!…


Florbela Espanca

@}-

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Cartas


Cartas


Há cartas e cartas!

Há cartas de amizades, paixões e amores,
Outras de obtusos e geométricos rigores.
Há cartas sóbrias, outras alegres... às cores,
E há as carregadas de tristeza e dolores.

Há cartas que nos fazem vibrar e voar...
Outras com contas e contas p’ra pagar.
Há cartas que nos fazem
rir e sonhar,
E há as que nunca deviam chegar…

Há cartas e cartas…


Rodrigo Lima - Poesias Avulsas

quinta-feira, janeiro 24, 2008

:'-(


Pois é! Esgotaram... :'-(

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Parei as Águas do Meu Sonho

Rays of Light Through Cloud
(bovitz.com)


Parei as Águas do Meu Sonho


Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...

Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.

Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
porque insisto em te imaginar?

Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

Cecília Meireles


Crepúsculos

Crepúsculo - José Luis Gonzalez
(www.brilloestelar.com)


"Para quê olhar para os crepúsculos se tenho em mim milhares de crepúsculos diversos - alguns dos quais que o não são - e se, além de os olhar dentro de mim, eu próprio os sou, por dentro? "

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

segunda-feira, janeiro 21, 2008

A um ti que eu inventei...

Solitária II - António Lança


A Um Ti Que Inventei

Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar grãos de nada em mínima balança

um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,

um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tamanha ternura

como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir.


António Gedeão




domingo, janeiro 20, 2008

Árvore


Árvore, árvore. Um dia serei árvore.
Com a maternal cumplicidade do verão.
Que pombos torcazes
anunciam.

Um dia abandonarei as mãos
ao barro ainda quente do silêncio,
subirei pelo céu,
às árvores são consentidas coisas assim.

Habitarei então o olhar nu,
fatigado do corpo, esse deserto
repetido nas águas,
enquanto a bruma é sobre as folhas

que pousa as mãos molhadas.
E o lume.


Eugénio de Andrade

domingo, janeiro 13, 2008

Scenic World

Há músicas realmente contagiantes...
A menina dança...?




Scenic World


the lights go on
the lights go off
when things don't feel right
i lie down like a tired dog
licking his wounds in the shade

when i feel alive
i try to immagine a careless life
a scenic world where the sunsets are all
breathtaking


Beirut

Who Are U?




Who Are U?

Ever since I saw you
I want to hold you
Like you were the one

It sees right through me
A bullet it comes and takes me
And I love you I love you
I want you but I fear you

Who are u?
Who are u?

Ever since I saw you
I want to hold you
Like you were the one

Your feet rest on my shoes
I sing this song for you
Just to see you smile

And I love you I love you
I love you but I fear you

Who are u?
Who are u?

For how long
How strong do I still have to be?
How come you mean so much to me?

For how long
How strong do I still have to be?
How come you mean so much to me?

And I love you I love you
I want you but I fear you

Who are u?
who are you?(x4)

For how long
How strong do I still have to be?
How come you mean so much to me?

For how long
How strong do I still have to be?



David Fonseca

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Palavras de Cal


"Aproximei-me do rio, da árvore velha e sentei-me. Passaram instantes em que o esperei, em que imaginei que ele pudesse não vir, em que o esperei a imaginar que ele podia não vir. O rio continuava o êxodo das coisas belas. Havia águas que eram crianças e que vinham para diante dos meus pés e que me diziam palavras frágeis que eu ainda não entendia, lamentos, lágrimas que eu ainda não entendia. Senti uma mão tocar-me no ombro. Voltei-me e vi o sol. Perguntou posso sentar-me? Sentimos a presença um do outro. O rio sentiu a nossa presença. O meu olhar ia com o rio. Havia uma aragem que trazia a água, que trazia o fresco da água. Senti os seus dedos no meu pescoço, na minha face, nos meus cabelos. Virei-me para ele. O seu rosto aproximou-se. Os seus lábios aproximaram-se lentamente."

excerto de "A Víúva Junto ao Rio"
in "Cal" - José Luís Peixoto



Idade em que os afectos estão mais amadurecidos, a velhice acaba por ser uma viagem muitas vezes vivida em ruidosa solidão, na proximidade de um fim que se quer longe e que se tenta fintar, "tornando-se a criança"... Viagem pontualmente polvilhada de personagens "menos velhas" que olham os "velhos" mas não os vêem, que os ouvem mas não os escutam...
"Cal" é um conjunto de viagens às vivências da velhice. Viagens às vezes trágicas, outras melancólicas ou até... cheias de ternura! É bom descobrir autores que nos fazem "Sentir"... e cuja escrita é uma verdadeira lufada de ar fresco.


"(...)
- Estes campos não são nada pequenos. Não admira que, às vezes a gente se senta tão sozinhos.
- Eu acho que não é por os campos serem grandes. É porque a gente já vimos tanta coisa. A gente pára-se a olhar para estes campos e distinguimos na terra uma pequena parte das coisas todas que já vimos, e depois, quando voltamos a olhar, não está lá nada. Está tudo vazio. Por isso é que a gente se sente sozinhos às vezes.
(...)"

excerto de "À Manhã"
in "Cal" - José Luís Peixoto


terça-feira, janeiro 08, 2008

...



A Rainha


Proclamei-te rainha.

Há-as mais altas do que tu, mais altas.

Há-as mais puras do que tu, mais puras.
Há-as mais belas do que tu, mais belas.

Mas tu és a rainha.


Quando vais pela rua,

ninguém te reconhece.
Ninguém vê a tua coroa de cristal, ninguém repara
na alfombra de ouro rubro
que pisas ao passar,

a alfombra que não existe.

E, quando surges,

todos os rios marulham

no meu corpo, os sinos

abalam o céu,

e um hino enche o mundo.

Apenas tu e eu,
apenas tu e eu, meu amor,

o escutamos.



in "Versos do Capitão" - Pablo Neruda

segunda-feira, janeiro 07, 2008

1 de Janeiro de 2008

Rafael

Em Hebreu, significa "Deus cura", Medicina de Deus.
Pessoa paciente e perseverante, que procura beneficiar os que precisam de ajuda. Mas, ao mesmo tempo, usa de todos os meios ao seu alcance para obter sucesso e prestígio.



[ 01.01.2008 ]
[ PauloTav ]


Infância



Sou pequeno

e penso em coisas grandes:
pomares e mais pomares,
jardins de flores e flores
e pelas montanhas e vales
grama verdinha e bosques,
com milhões de árvores
e asas de passarinhos.

Rios e mares de peixes
— aquários largos e livres
— ar dos campos e praias,
a manhã trazendo o dia
com o sol da esperança
e a noite de sonhos lindos,
nuvens calmas, lua e astros,
minhas mãos pegando estrelas
neste céu de doce infância.

E pelas estradas claras
meu cavalinho veloz
no galopar mais feliz:
— eu e ele sorrindo,
levando nosso cristal
para os meninos do mundo.


Cleonice Rainho





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